Eu não sei quando isso começou, só sei que começou e talvez não tenha fim: Sou uma pessoa obcecada por tênias. É uma coisa da infância, isso é certo. Talvez um livro de ciências, talvez uma vida em posto de enfermagem (meus pais são médicos), sei lá. Fato é que aconteceu. Aos 7 anos, eu já tava viajando em contrair uma teníase e trocar uma ideia com minha… roommate

Uma vez, meu pai praticou aquele velho movimento do “fique aí desenhando que daqui a pouco eu volto” e me largou com umas três enfermeiras, mas caiu na besteira de finalizar o lance com “vou ali ver um paciente que tá com um bicho deeeeeesse tamanho na barriga” – E fez o gesto típico de quando falamos de caralhos enormes, mas abrindo muito mais o espaço entre as mãos espalmadas. Criança não perdoa, então mandei a braba: “é uma tênia?”. A carinha de “que porra esse menino anda fazendo em casa?” do meu pai foi muito foda.

Bom, ele não deixou eu conhecer o cara que tava internado com teníase. Acho que foi pra eu não me frustrar, porque ele sabe que, quando me frustro, costumo deixar isso claro pra todo mundo que tá em volta, o que certamente geraria constrangimentos indescritíveis entre ele, o paciente e a acompanhante. 

Tênias se tornaram meus bichos favoritos depois dos cachorros, das baleias e, é claro, dos seres humanos. Dia desses, resgatei uns cadernos da época da escola. Há solitárias em todo canto, o que, de certa forma, metaforizava com muita precisão minha posição social entre os colegas de turma. Não sei se veio daí, mas escrever uma narrativa sobre tênias sempre me pareceu uma boa ideia… É a história de um Highlander que já ganhou o prêmio. Só pode – e só há – uma.

Esbocei muita merda ao longos dos anos, mas a narrativa da tênia saiu quando acidentalmente consegui elaborar o meu traço de tirinhas (contei sobre esse ocorrido aqui). E o contexto foi o de aproveitar o isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus pra criar a Quarentênia. 

A Quarentênia é uma personagem foda. Ela é segura, culta, não precisa de parceiros, não aceita desaforo e sua única tentação é uma bistequinha de porco semi-digerida. NHAM NHAM NHAM! A série de tiras, que chegou a umas trinta e poucas aventuras e algumas ilustras especiais, foi publicada quase que integralmente no meu instagram. Guardei o final da história pra uma futura publicação impressa, mas o resto tá disponível lá. Foi meio que um sucesso. Deu pra compreender que eu, diferente das tênias, não estou sozinho e tem muitas pessoas que compartilham esse meu fascínio pela esquisitice e pela esculhambação – e você provavelmente é uma dessas pessoas.

Tmjs… Leia quase toda a Quarentênia em @athaydeaf

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