Uma vez nomeada provisoriamente de “do zero ao mais ou menos” e definidos os aspectos técnicos da minha graphic novel de quarentena, comecei a trabalhar. A primeira grande influência exercida sobre a história foi a convocatória para a “Revista Pé de Cabra“, que aceitava narrativas de até 6 páginas, em preto e branco e no mesmo formato da minha. O tema da publicação era televisão, então decidi que o primeiro capítulo que eu desenhasse seria condizente com a exigência, teria um fechamento próprio e eu o enviaria pra fazer aquele preview deluxe com o mercado. Escrevi e desenhei tudo com muita antecedência. Tanta antecedência que esqueci de mandar na data. 

Sabem, eu sou um sujeito precavido, tão precavido, que tomo café da manhã antes de dormir, mas essa experiência aí serviu de lição pra, digamos, deixar as coisas irem com o “frucço”… Como a água, tipo aquela lenga-lenga de Bruce Lee. Por isso, decidi roteirizar cada capítulo separadamente, norteado por uma continuidade de fatos coesa e uma continuidade de desenhos maaaais ou menos esbagaçada. Pequenos erros e incoerências dão personalidade à obra. Como diria Paulo de Oliveira, no Larica Total, “pequenas palavras mágicas ajudam nossa vida. Descubra o seu flau!

Enfim…

O visual dos personagens foi inspirado no trabalho de Akira Toriyama em Dragon Ball e nos conceitos de Alex Toth para o desenho animado Space Ghost, da Hannah Barbera. Não assimilei técnicas relacionadas ao traço deles, somente questões ligadas ao design. Toriyama, em particular, talvez tenha sido a força motriz de toda minha empreitada como ilustrador e quadrinista justamente pelo seu senso narrativo alicerçado essencialmente na coesão estética – ou seja, preserva-se a verve da obra, mas se deixa de lado aspectos minuciosos, como modificações (nada) sutis na estilização das figuras à medida que as páginas avançam.

O trabalho do autor ainda me leva a crer que ele faz parte de um grupo de artistas com o qual eu me identifico muito: Os preguiçosos dedicados. Aqueles sujeitos que não querem fazer mais que o mínimo necessário para levar o fruidor de seu trabalho à compreensão da obra. Na prática, isso reverbera num tipo de processo criativo que acarreta uma dinâmica de figuras “sentimentais”:  anatomicamente estranhas, mas simbolicamente poderosas. Nada é tão bom pra o desenho quanto sentar à prancheta com muita preguiça de começar a trabalhar e compensar isso em traços rápidos, espontâneos, imprecisos e, de alguma forma, mais conectados à sensação que à própria técnica. 

Comecei a levar essa ideia a níveis extremos…

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